George Orwell (Eric Arthur Blair) regressou a Inglaterra, vindo de Paris, no Natal de 1929. Os três anos seguintes passou-os a vagabundear, experimentando altos e baixos: redigiu recensões, artigos importantes, foi professor e escreveu e reescreveu Na penúria em Paris e em Londres, que seria rejeitado sucessivamente até chegar às mãos do editor Victor Gollancz. O livro acabou por cativar a crítica, apesar da relutância dos livreiros e do receio de Orwell. Através da personagem Bozo, é Orwell que discorre acerca da pobreza e investe sobre a dignidade de todos os seres humanos, mesmo os pedintes sem eira nem beira: «É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.» A descrição de Orwell é brutal, desalentadora, injectando sofrimento e aviltação na essência de cada um de nós, mas é perpassada por momentos divertidos e comoventes. Orwell tenta deste modo contar a história dos homens com quem se vai cruzando, vidas perdidas que apenas o encontro resgata. Desde a primeira edição (1933) prevalece a questão de como destrinçar a realidade da ficção. Como na maior parte da sua obra, de facto, Orwell trabalha com mestria e de forma importante e valiosa na fronteira entre o documentário e a ficção, mas a sua escrita está indubitavelmente fundada e enraizada no mundo que descreve. E talvez seja esse o maior «ensinamento» de Orwell: revelar-nos que o quotidiano daqueles que vivem na mais absoluta penúria se resume quase exclusivamente à eterna luta por encontrar comida e um sítio para dormir.
- tradução Miguel Serras Pereira
- 1.ª edição 1985
- páginas 270
- isbn 972-608-031-2
*O preço final inclui 10% de desconto da editora (válido até 31/12/2024)
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