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Pão Seco | Ípsilon (Público) | Recensão de Mário Santos ★★★★★
«Finalmente em bom português um livro mítico de Muhammad Chukri. [...] [O tradutor] Hugo Maia afirma nos seus “apontamentos” finais que a voz do narrador “lembra vagamente” a de Genet no Diário de um Ladrão (1949). E concordamos: “Roubarei todos aqueles que me explorarem, mesmo que sejam os meus pais. E assim, na companhia dos filhos do pecado, passei a considerar o roubo como sendo uma virtude.” (p. 26) Miséria de misérias, tudo é miséria em Pão Seco: há a miséria económica, a miséria afectiva, a miséria sexual... Mas depois disto, e apesar disto, há na narrativa de Chukri uma recusa altiva (também, um pouco, à maneira de Cossery) da vitimização moralista, opondo-se-lhe, antes, uma liberdade que só a plena e assumida marginalização prodigaliza, a liberdade de alguém que, “odiando todas as pessoas”, cospe para o chão e para o céu. Uma liberdade radicalmente intratável.»