Tempo do Coração | Ípsilon (Público) | Recensão de Isabel Lucas ★★★★

Tempo do Coração | Ípsilon (Público) | Recensão de Isabel Lucas ★★★★

«A história entre os dois é feita tanto de amor, como de incapacidade de comunicar o amor. Ela é leitora dele; considera-se mesmo a mais preparada das suas leitoras. Ele procura nela conselho, desabafo, apoio, e só muito mais tarde a considera como autora de uma obra a considerar.

(...) São cartas de amor, cartas de cumplicidade e de troca artística entre duas pessoas que depois de romperem mantêm uma amizade intensa e que conterá muitas das marcas dos dias em que houve romance. Entre as marcas mais visíveis estão os mal-entendidos. “Ainda te lembras do que te disse, a última vez que te vi, há dois anos em Paris, no táxi, antes da partida? / Eu lembro-me Ingeborg. / ‘Não te metas em aventuras, Ingeborg’, foi isto que te disse. Perdeste-te em aventuras, e o nem teres consciência disso confirma-o.”

A carta é de 19 de Maio de 1960 e está entre as 196 que ambos trocaram e que se podem ler na colectânea Tempo do Coração, livro organizado em 2008 por Bertrand Badiou, Hans Holler, Andrea Stoll e Barbara Wiedemann agora com edição em Portugal, tradução de Claudia J. Fischer e Vera San Payo de Lemos. É um volume extenso. Além das cartas, reúne fotografias, bilhetes, telegramas, postais, notas, dedicatórias, dois posfácios que contextualizam a obra de Bachmann e Celan, além da correspondência entre Paul Celan e Max Frisch, escritor e marido de Bachmann, e entre Bachmann e Gisèle Celan-Lestrange, a mulher de Celan. É um documento onde é nítida a singularidade da relação entre dois dos escritores mais influente de língua alemã do século XX, mas muito sobre as suas oficinas criativas e o ambiente cultural da Europa do pós-guerra. Também são um testemunho do discurso amoroso depois do Holocausto. Há culpa, a ambiguidade perante a ideia de esquecimento, a luta contra a dor da memória e a necessidade de a manter viva.»

Para ler na íntegra aqui.

 

Tempo do Coração | Ípsilon (Público) | Recensão de Isabel Lucas ★★★★

© Arquivo da família Bachmann Suhrkamp Verlag

 

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«Ao longo de 20 anos mantiveram correspondência. A última carta é de Julho de 1967. Em 1970 Celan atirou-se ao Sena. Ingeborg morreu em 1973 num incêndio.» © Knapitsch

 

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«A filha de um ex-nacional-socialista de 22 anos e o filho de vítimas do Holocausto, seis anos mais velho, encontraram-se em Viena na Primavera de 1948 e começaram uma relação amorosa pouco comum, quase sempre à distância.» © Heinz Bachmann, 1962

 

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© Fotografia de Gisèle Celan-Lestrange, propriedade de Eric Celan


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