O catolicismo e o protestantismo, aos poucos reduzidos ao estado de ideologias, não hão-de escapar, nos últimos anos deste século XX, ao fim dos totalitarismos e das formas de pensamento monolíticas.
«Os mitos da tirania mostram-se muito mais fortes que a veracidade. Certifica-o a história do cristianismo, dessa mitologia que a partir duma personagem messiânica inventada veio a tornar-se prosaica ortodoxia. Neste longo fim do Império da Mercadoria, com a sua decadência a fazer do mundo uma acelerada sucessão de ruínas exteriores e interiores, as crenças religiosas e o pulular das seitas respectivas são o icebergue da irracionalidade devastadora que hoje constitui a ideologia deste Império — que dos homens fez escravos chamando-lhes cidadãos. O cristianismo, invenção ocidental de um modelo de domínio pelo mito «humanizado», inaugura assim o absolutismo das ideias invertidas através de uma falsificação organizada. A sua história é obviamente incompreensível sem as heresias que sempre suscitou e que, muitas vezes materializadas em insurreições populares, puseram no terreno das exigências imediatas a comunidade dos bens, a abolição geral das hierarquias e o mais livre pensamento.»
- Título original Les Hérésies
- Tradução Júlio Henriques
- 1.ª edição 1994
- Páginas 172
- ISBN 972-608-081-9
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