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A obra e o destino de Ramón Gómez de la Serna (1888-1963) situam-se entre os mais paradoxais. Autor precoce (os primeiros textos datam de 1904) e fecundo – os seus livros de todos os géneros ultrapassam a centena – torna-se rapidamente célebre sendo considerado nos anos 20 o mais importante escritor da sua geração. Antes de 1930 vários dos seus livros são traduzidos nomeadamente em francês; Valéry Lasbaud que em 1923 o introduz em França ao apresentar uma colectânea dos seus escritos declara: «Os três maiores escritores deste século são Proust, Joyce e Gómez de la Serna.» Publicado em 1917, Senos parece contudo ter sido escrito muito antes e obrigado pela sua terna ousadia a esperar algum tempo até poder chegar aos prelos. Como diz o Autor no seu Prólogo o livro «foi escrito em plena vidência juvenil pelo que ao relê-lo após toda a experiência acumulada creio ter feito o que devia fazer cantando a pleno cantar a beleza indizível dos seios o que mais suavemente eleva a mulher acima da alimária pois só a esfinge se atreveu a ter seios como ela». Se esta expressão numa interpretação apressada pode parecer uma blague machista é afinal um acto de arrebatada mas também respeitosa veneração pela mulher através do que mais suavemente a caracteriza. Ao analisar o comportamento feminino – tantas vezes assimilado à misteriosa figura esfíngica (que o Autor oportunamente associa à sua «tese») – em função dos seios não só utilizando como antecipando mesmo a nascente ciência psicanalítica, Gómez de la Serna revela-se já nesta obra como a personalidade incontornável da vanguarda literária europeia que viria a ser. 

  • tradução José Colaço Barreiros
  • 1.ª edição 2000
  • páginas 232
  • isbn 972-608-114-9


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