O direito de intolerância é absurdo e bárbaro: é o direito dos tigres, e é bem horrível; porque os tigres matam para comer e nós andámos a exterminar-nos por causa de parágrafos.
Este tratado (1763) constitui porventura um dos escritos mais significativos do combate que, sobretudo a partir de finais da década de 50 do século XVIII, Voltaire desenvolve contra o conservadorismo mais radical, o espírito de intolerância religiosa que lhe anda associado e as estruturas judiciais mais arcaicas do Antigo Regime.
Tomando a defesa da família Calas, perseguida com a maior crueldade pelas autoridades de Toulouse, Voltaire empenha-se pessoalmente no processo de revisão da sentença que levara Jean Calas ao patíbulo e acaba por redigir um volume cujo alcance excede em muito as circunstâncias que o motivam.
Clássico da literatura sobre este tema, a par dos escritos de Pierre Bayle e de John Locke, este Tratado Sobre a Tolerância comporta pelo menos um aspecto que o torna actual no nosso tempo: é que o autor dirige o seu combate contra formas concretas de exercício do poder judicial e contra a promiscuidade entre a ideologia e os mecanismos da justiça. Voltaire coloca-nos perante a ideia de tolerância como combate continuado, como conquista infindável, como prática de transformação de nós mesmos, muito para lá do estrito problema religioso e das localizações geográficas em que possa parecer confinar-se. A tolerância diz respeito a cada um de nós, como forma de se ver a si mesmo e ao outro, enquanto sujeitos de conflitualidade que todos nós somos.
- Título original Traité sur la tolérance
- Tradução e introdução José M. Justo
- 3.ª Edição 2023
- Páginas 222
- ISBN 978-972-608-436-5
*O preço final inclui 10% de desconto da editora (válido até 31/12/2024)
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