Diário – Volume I | Novo Semanário | Recensão de Ricardo Ramos Gonçalves

«Diário de um escritor exilado

Aos 49 anos, auto-exilado na Argentina, o escritor polaco Witold Gombrowicz toma a decisão de iniciar a escrita de um diário, uma “autobiografia em movimento” que manteria por toda a vida. O primeiro de três volumes da obra maior de um dos mais proeminentes escritores do século XX chega agora, pela primeira vez, a Portugal.

[...] Num tom muitas vezes virulento, Gombrowicz viola as regras do próprio género em que escreve, criando uma obra singular em que tudo cabe: ensaios, notas curtas, tiradas polémicas e confissões sobre uma miríade de assuntos que vão de eventos políticos à literatura e à certeza da morte.

Dia a dia, o autor de “Pornografia” (1960) reflecte sobre o mundo de forma enciclopédica. Escreve sobre o marxismo, sobre a Igreja Católica, sobre os promotores do existencialismo (Camus e Sartre, que se contentavam em contar com Gombrowicz como uma espécie de embaixador involuntário), sobre o destino infeliz da Polónia ou sobre o exílio, primeiro na Argentina, mais tarde em França. Quaisquer que sejam, as confissões que preenchem estas páginas são tão filosóficas quanto pessoais - embora, no universo de Gombrowicz, as duas nunca possam ser nitidamente separadas.

[...] Na Argentina, a pátria adoptiva onde escreve este primeiro volume de “Diário” e onde vive uma vida austera, não se integra nos círculos intelectuais, mas cultiva a permanência prolongada como ascese, exercício de estilo e de contracorrente. Sem nunca deixar de ser comentador de si próprio, assume para lá da linha do Equador um papel renovador na literatura polaca: “Não anseio por representar mais nada além da minha própria pessoa; no entanto, a função de representante é-nos imposta pelo mundo contra a nossa vontade.”»

Para ler na íntegra aqui.


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