Guy Debord
Guy Debord, nascido em 1931, em Paris, suicidou-se em 1994, nas montanhas de Auvergne. Co-fundador, em 1957, da Internacional Situacionista, foi seu co-dissolvente em 1972.
«Os livros de Debord constituem a análise mais lúcida e severa das misérias e escravidões de uma sociedade — a do espectáculo, em que vivemos — que nos nossos dias estendeu o seu domínio a todo o planeta. Como tais, os seus livros não precisam de ser esclarecidos nem elogiados, e ainda menos necessitam de um prefácio. A existir neste século um escritor a quem Debord porventura aceitaria ser comparado, esse escritor é Karl Kraus. Ninguém melhor do que ele, na sua encarniçada luta contra os jornalistas, soube esclarecer as leis escondidas do espectáculo, "os factos que produzem as notícias e as notícias que são culpadas pelos factos". […] No caso de Debord, tal como em Kraus, a língua apresenta-se como a imagem e o lugar da justiça. A analogia, porém, aí termina. O discurso de Debord começa justamente onde a sátira se cala. A morada antiga da linguagem (e, com ela, a tradição literária em que a sátira se alicerça) vê-se doravante falsificada e manipulada inteiramente. Kraus reage a esta situação fazendo da língua o lugar do Juízo Final. Debord, pelo contrário, começa a falar quando o Juízo Final já ocorreu e o verdadeiro só como um momento do falso foi reconhecido. O Juízo Final que surde na língua e a Noite de Walpurgis do espectáculo coincidem totalmente. Esta paradoxal coincidência é o lugar de onde a sua voz perpetuamente ressoa fora de campo.»
Giorgio Agamben