Ingeborg Bachmann
1938, Áustria: uma criança assiste à marcha das tropas nazis na sua cidade. Este momento, que «destruiu a infância» de Ingeborg Bachmann (1926-1973), e o espectro do pai, partidário do nacional-socialismo, assombrariam a poeta d’O Tempo Aprazado (1953), para quem o fascismo seria sempre, não um monstro derrotado, mas uma ameaça quotidiana. Em 1954, ao surgir na capa da Spiegel, convertia-se num ícone da literatura do pós-guerra, num mito de cabelo curto, lábios pintados e gola alta, arredio à atenção mediática que a faria trocar a Áustria por Itália. Nos anos 50 e 60, integrou o Gruppe 47 e desenvolveu um diálogo íntimo com Paul Celan (Tempo do Coração, Antígona, 2020), a par de uma relação conturbada com Max Frisch. Vários galardões — entre os quais o Prémio Georg Büchner — consagrariam uma escritora cuja sensibilidade artística se aliava à denúncia de uma sociedade patriarcal onde os carrascos de ontem eram os poderosos de hoje. Em 1973, após um incêndio em sua casa e uma longa dependência de barbitúricos, morria em Roma «a poeta mais inteligente que a Áustria deu ao mundo no século XX, destroçada pela maldade de uma pátria que continuaria a persegui-la além-fronteiras» (Thomas Bernhard).