A Liberdade é Uma Luta Constante | Ípsilon (Público) | Recensão de Cristina Roldão | ★★★★★

«De Ferguson, à Palestina e Amadora: o abolicionismo de Angela Davis

Para Angela Davis, o caráter global da violência de Estado sobre corpos negros não pode ser dissociado das origens coloniais do capitalismo avançado, nem do “complexo industrial prisional” globalizado.

Dificilmente o momento poderia ser mais oportuno para a edição em português de A Liberdade é uma Luta Constante: Ferguson, Palestina e as Bases de um Movimento de Angela Davis. Na sua trajectória política e académica constituiu importante património de reflexão sobre a interseccionalidade — entre raça, género e classe, embora “não tanto a interseccionalidade de identidades, mas a interseccionalidade de lutas” (pp. 173) —, de que nos dá conta o incontornável Woman, Race and Class (1981), e sobre o “complexo industrial prisional”.

A obra agora publicada, compilação de entrevistas e discursos, originalmente editada em 2016, é um diálogo com a ascensão do movimento Black Lives Matter na sequência do assassinato de Michael Brown pela polícia de Ferguson/Missouri, assim como reflecte sobre as conexões com a ocupação e luta de libertação na Palestina. É uma continuidade de obras como Are Prisons Obsolete? (2003), Abolition Democracy (2005), The Meaning of Freedom: And Other Difficult Dialogues (2012).

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Para Davis, a prisão é peça fundamental do “capitalismo racial”, como diria Cedric Robinson. O capitalismo avançado, com os seus alicerces económicos coloniais, produz um número crescente de excluídos à escala global. A “gestão” desses corpos, desproporcionalmente racializados e pobres, faz-se por políticas territoriais segregadoras, pelo reforço da vigilância policial e confinamento prisional, mas também pela militarização da repressão dessa presença, como é evidente na Palestina. Há um mercado de bens e serviços de “castigo” que se constitui e cuja sobrevivência depende da escalada da violência sobre esse número crescente de excluídos e da sofisticação e diferenciação permanente dessa “oferta”.

[...]

As manifestações que nas últimas semanas deflagraram por todo o mundo não são uma onda mimética dos protestos em torno do assassinato de George Floyd. Não se podendo deixar de reconhecer a forte influência dos EUA, os protestos que surgiram por todo o mundo fazem também parte de um longo trajecto de mobilização em cada um dos países.»

Recensão completa aqui.


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