Rentrée 2024 | Novidades até ao fim do ano

Ei-los, os mais subversivos coelhos fora da cartola. 
Apanhai-os frescos até ao fim do ano e saboreai-os detidamente até ao fim dos tempos.
Tchim-tchim!


AGOSTO

A PAREDE | Marlen Haushofer
Tradução Gilda Lopes Encarnação
ISBN 978-972-608-460-0 | 296 pp.
Romance | 19 Agosto

Um romance maravilhoso e tão cativante como Robinson Crusoe. | Doris Lessing

Uma das obras mais profundamente feministas do século passado. | Naomi Huffman

Um livro sobre o que nos mantém vivos, a auto-suficiência e a solidão. | Sheila Heti

De férias numa casa de campo nos Alpes austríacos, uma mulher depara com uma barreira invisível que a isola do mundo e a leva a crer que é a única sobrevivente de uma catástrofe. Tendo por companhia somente os animais e as imponentes montanhas, e à medida que se adapta a um novo modo de vida, desenvolve uma profunda ligação com a natureza, encontrando um propósito: resistir entre a ameaça da loucura e a dureza das tarefas diárias, à mercê dos elementos, e zelar pelo que resta. Escrito em plena Guerra Fria, A Parede (1963) é um clássico ecofeminista redescoberto, uma comovente história de sobrevivência e regresso às origens, movida pela empatia por tudo o que nos rodeia, animal ou vegetal. Este livro de culto, com ecos de Walden e Robinson Crusoe, foi adaptado ao cinema por Julian Pölsler em 2012.

 

 

 

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SETEMBRO

DEVANEIOS DO CAMINHANTE SOLITÁRIO | Jean-Jacques Rousseau
Tradução Miguel Serras Pereira
ISBN 978-972-608-466-2 | 168 pp.
Ensaio | 8 Setembro

Só depois de me ter desprendido das paixões sociais e do seu triste cortejo, redescobri a natureza com todos os seus encantos.

Derradeira obra de Jean-Jacques Rousseau, inacabada e publicada postumamente, Devaneios do Caminhante Solitário (1782) eram, segundo o autor, «um apêndice das Confissões» e encerram algumas das suas mais belas linhas. Este «registo fiel dos passeios solitários e dos devaneios que os preenchem», nas cercanias de Paris e no lago de Bienne, é, além de um duro balanço de vida, na sequência da proscrição de que Rousseau foi alvo, um eloquente conjunto de meditações que abarcam a velhice, o refrigério na natureza e a perseguição movida por uma sociedade hostil. Livro que antecipou a sensibilidade romântica, é uma reflexão maior sobre o exílio e as poderosas cadeias que tolhem a liberdade individual.

 

AUTODEFESA
Uma Filosofia da Violência | Elsa Dorlin
Tradução Manuel de Freitas
ISBN 978-972-608-444-0 | 280 pp.
Ensaio | 23 Setembro

Prémio Frantz Fanon 2018

Ensaio magistral sobre o sentido político da autodefesa e a sua genealogia, sobre a forma como a própria história da violência encerra uma contra-história interna: a da prática da autodefesa e da resistência contra a ordem dominante – policial, judiciária, racista, homofóbica. Um vigoroso fresco histórico, no cruzamento entre a filosofia e a política, que abarca tanto a autodefesa dos escravos, o krav maga, o jiu-jitsu das sufragistas britânicas, como as lutas armadas dos Panteras Negras nos anos 60.

Elsa Dorlin (n. Paris, 1974), doutorada pela Universidade Paris-Sorbonne, é professora de Filosofia Política e Contemporânea na Universidade de Toulouse Jean Jaurès. Ensaísta e investigadora em teoria feminista, organizou a antologia Black FeminismAnthologie du féminisme africain américain (1975-2000) e publicou, entre
várias obras, La Matrice de la race (2006) e Sexe, genre et sexualités (2008).

 

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OUTUBRO

A CORNETA ACÚSTICA | Leonora Carrington
Prefácio Ali Smith | Tradução Inês Dias
ISBN 978-972-608-467-9
Romance | 7 Outubro

Centenário do Surrealismo — 2024

Um dos romances mais originais, divertidos e visionários do século XX. | Ali Smith

Ler A Corneta Acústica liberta-nos da triste realidade do quotidiano. | Luis Buñuel

Uma extraordinária história surrealista – hilariante e aterradora. | Olga Tokarczuk

Dura de ouvido, nonagenária e vegetariana, Marian Leatherby é brindada com uma rica prenda: um aparelho auditivo oferecido pela sua amiga Carmella. E rapidamente se apercebe dos planos que a família lhe destina: um bilhete (só de ida) para um lar de terceira idade, cristão e patrocinado por uma marca americana de cereais de pequeno-almoço. Provavelmente a heroína de maior longevidade na história da literatura, esta anciã empoderada não está pelos ajustes e trata de desfiar críticas à hipocrisia político-social reinante. Em suma, com uma intriga que alia, previsivelmente, mitologia céltica, contos de fadas e fisioterapia, A Corneta Acústica (1974) é «uma utopia pós-apocalíptica, em que um grupo de anciãs — auxiliadas por um chinês, um carteiro-bardo imortal, uma alcateia e uma lobimulher — recupera o Santo Graal, para instaurar uma nova ordem, baseada no respeito por todas as criaturas» (Diana V. Almeida).

 

RETRATO HUACO | Gabriela Wiener
Tradução Guilherme Pires
ISBN 978-972-608-468-6
Romance | 7 Outubro

Wiener é pura rebeldia, humor e ternura. | Sara Mesa

Com grande inteligência e um humor irreverente, Wiener resgata do arquivo familiar uma história íntima que é também a história infame do nosso continente. | Valeria Luiselli

Seguir o rasto de Gabriela Wiener, caminhar atrás dela sonhando alcançá-la, é um dos poucos luxos que nos restam. | Alejandro Zambra

O melhor livro que li sobre a filiação e o amor na condição pós-colonial contemporânea. | Paul B. Preciado

O romance de estreia de uma das vozes mais irreverentes e ousadas da
nova geração de escritoras latino-americanas.

Em Retrato Huaco (2021), nome dado a estatuetas de cerâmica que representavam fielmente rostos indígenas e, dizia-se, capturavam as suas almas, mesclam-se uma história de família e reflexões sobre o colonialismo. Quando a autora se passeia por uma sala de um museu parisiense e depara com uma colecção doada no século XIX por um antepassado austríaco – Charles Wiener –, descobre o seu rasto de violência e pilhagem, e um filho bastardo, que deu origem à linhagem peruana da autora. Esta perturbadora herança familiar e colonial faz Gabriela Wiener investigar a sua genealogia, a história de dois continentes, e abordar, com um humor corrosivo, relações de parentesco nas quais colonizadores e colonizados se fundem.


Gabriela Wiener (Lima, 1975), jornalista e escritora peruana, residente em Madrid, é uma das novas vozes literárias mais destacadas da América Latina. Escreve para o La República, o El País e o New York Times. Ganhou o prémio nacional de jornalismo no Peru e, entre os seus livros – publicados em Itália, Espanha e França –, destacam-se Sexografías, Nueve Lunas, Llamada perdida, Dicen de mí e o poemário Ejercicios para el endurecimiento del espíritu. Retrato Huaco é o seu primeiro romance.

 

TEA ROOMS
Mulheres Operárias | Luisa Carnés
Tradução Helena Pitta
ISBN 978-972-608-435-8
Romance | 21 Outubro

Uma autora injustamente esquecida e de leitura obrigatória. | La Vanguardia

Madrid. Anos 30. Num salão de chá, acompanhamos o esforçado dia-a-dia das empregadas do estabelecimento, enquanto prenúncios da guerra ecoam nas ruas. Romance que retrata a realidade das mulheres no período que antecedeu a Guerra Civil Espanhola, apelando inevitavelmente ao presente, Tea Rooms (1934) apresenta-nos a veterana Antonia, cuja competência ninguém reconhece, Laurita, a afilhada do dono, que se diz uma rapariga moderna, entre outras. Se, porém, todas elas se calam perante hierarquias, cabe a Matilde, a protagonista, com as suas aspirações de igualdade e emancipação, despertá-las do silêncio.

Romancista e jornalista, Luisa Carnés (1905-1964) nasceu no seio de uma família operária de Madrid. Autodidacta, trabalhava de dia e escrevia à noite, foi telefonista e empregada em salões de chá, à semelhança das personagens de Tea Rooms. Defensora do sufrágio feminino e da causa republicana, exilou-se no México no início da guerra. «Autora injustamente esquecida e de leitura obrigatória» (La Vanguardia), tem vindo a ser reeditada em Espanha.

 

EN AVANT DADA
Uma História do Dadaísmo | Richard Huelsenbeck
Tradução Bruno C. Duarte
ISBN 978-972-608-387-0
Ensaio | 21 Outubro

Centenário do Surrealismo — 2024

Em En Avant Dada (1920), Richard Huelsenbeck – co-fundador do Cabaret Voltaire em 1916, figura central do dadaísmo, cronista da vanguarda e autor de vários artigos, panfletos e poemas que contribuiriam para a disseminação do espírito DADA – traça a história do movimento dada. Uma história parcial e polémica, por um dos seus principais intervenientes, e, neste sentido, plenamente dadaísta.

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NOVEMBRO

RIFQA | Mohammed El-Kurd
Tradução Manuel de Freitas | Capa Catarina Sobral
ISBN 978-972-608-470-9
Poesia | 4 Novembro

The Right to Speak for Ourselves | The Nation

Uma estreia notável. | Los Angeles Review of Books

Rifqa é uma absoluta maravilha, e El-Kurd é precisamente o tipo de poeta de que precisamos hoje: sem medo de dizer a verdade. | Hala Alyan

Que estes poemas vos desafiem e despertem. Que vos incitem a agir. Que vos ajudem a encontrar as palavras para aquilo que já sabem ser verdade. | Aja Monet

Rifqa, palavra árabe que significa bondade e gentileza, era o nome próprio da avó de Mohammed El-Kurd, à qual ele dedica o seu primeiro livro de poesia. Sobrevivente da Nakba, o êxodo forçado do povo palestiniano em 1948, e refugiada na sua própria terra, esta resistente, «mais velha do que Israel», é aqui evocada como símbolo do combate contra a opressão e o colonialismo. Com uma escrita despojada, mas pungente e politicamente comprometida, El-Kurd transmite-nos o sentimento de um povo em luta pela sua terra e memória, que é também a história da família do poeta.

Mohammed El-Kurd (n. 1998), jornalista, poeta e activista, nasceu no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém. É uma das principais vozes da causa palestiniana e, com Muna El-Kurd, sua irmã, fundou o movimento #SaveSheikhJarrah, tendo os dois sido detidos em 2021 pela polícia israelita. Nesse mesmo ano, a Time considerava-o uma das cem pessoas mais influentes do mundo. É o primeiro correspondente palestiniano da revista The Nation e editor de cultura do Mondoweiss.

 

A PEQUENA COMUNISTA QUE NUNCA SORRIA | Lola Lafon
Tradução Luís Leitão 
ISBN 978-972-608-452-5 | 256 pp.
Romance | 18 Novembro

A Pequena Comunista que Nunca Sorria (2014) leva o leitor até aos Jogos  Olímpicos de Verão, em Montreal, onde, em 1976, uma frágil adolescente de 14 anos obtém um dez perfeito em ginástica artística. Fascinada pela história da criança-mito Nadia Comaneci e imaginando os seus pensamentos e emoções nos anos subsequentes, quando um jornal francês declarou «a rapariga tornou-se mulher; a magia desapareceu», Lola Lafon cria um romance inspirado sobre uma infância sacrificada, uma adolescência comprometida, o tratamento da figura feminina pela comunicação social e pela sociedade e um ideal de perfeição que só a custo da sanidade mental é suportado pelo corpo.

Lola Lafon (n. 1974) nasceu em Paris, onde reside actualmente, e cresceu em Sófia e em Bucareste. Na adolescência, frequentou os meios dos squatters e anarquistas da capital francesa. É autora de seis romances premiados, entre os quais Une fièvre impossible à négocier (2003) e Nous sommes les oiseaux de la tempête qui s’annonce (2011), que abordam o capitalismo, o antifascismo e o feminismo. Está envolvida em diversos colectivos feministas e orienta ateliês de escrita para populações desfavorecidas. Integra o grupo musical Leva, influenciado por sonoridades e tradições musicais dos Balcãs.

 

 

MARCAS DE BATOM 
Uma História Secreta do Século XX | Greil Marcus
Tradução Helder Moura Pereira
ISBN 978-972-608-449-5
Ensaio | 18 Novembro

Greil Marcus | Faber

Enciclopédia da subversão e da revolta, segundo a crítica internacional, um livro no qual se cruzam os Sex Pistols, Debord e os situacionistas, dadaístas e gnósticos da Idade Média.

Com uma nova introdução e bibliografia actualizada pelo autor.

Esgotado há muito em Portugal, chega em 2024 a aguardada reedição de Marcas de Batom (1989), de Greil Marcus, crítico musical, ex-editor da  Rolling Stone e colunista icónico, autor de Mystery Train: Images of America in Rock'n'Roll Music (1975) e The History of Rock'n'Roll in Ten Songs (2014), entre outras obras.

Em entrevista a Tony Wilson, Greil Marcus confessava em 1989 ter ficado abismado ao ouvir Johnny Rotten cantar «Anarchy in the UK». Restava- lhe descobrir de onde vinha a força, o poder, o niilismo daquele não rotundo gritado ao mundo, em suma, encontrar as raízes de um inconformismo. Marcas de Batom traça precisamente esta busca, esta viagem alucinante e imparável que o leva dos heréticos medievais aos dadaístas, situacionistas e anarquistas, e que prova que, ao longo da História, apesar de múltiplas tentativas de supressão, foi impossível calar as vozes subversivas e marginais que reaparecem e se fazem ouvir incessantemente na música, em manifestos, na arte, e que formam uma corrente demasiado vital e coerente para ser travada.


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