As novidades de 2025 em destaque

Uma selecção da nossa colheita insolente e subversiva anual.
Para degustar ao longo de 365 dias.
Tchim-tchim!
 

 

FICÇÃO

FEVEREIRO

AS COISAS – Uma História dos anos 60 | Georges Perec
Tradução Luís Leitão
ISBN 978-972-608-474-7 | 128 pp. 
Romance | 3 Fevereiro

Paris, anos 60. Sylvie e Jérôme, um jovem casal que trabalha para agências de publicidade, vivem, ironicamente, obcecados em adquirir coisas, os objectos de um desejo engendrado pela sociedade que servem. A frustração surge quando a felicidade que lhes acena nos jornais e nas montras parisienses choca cruelmente com as exigências da vida real. As Coisas (Prémio Renaudot, 1965), que se tornou um clássico da literatura contemporânea, retrata o fascínio que tralha de toda a espécie exerce sobre o comum mortal, soterrando-o no consumismo em que estaremos atolados até ao fim dos tempos.

Georges Perec (1936-1982) foi um destacado romancista, cineasta e ensaísta francês. Filho de judeus polacos assassinados por nazis, encontrou na literatura e na psicanálise refrigério para os seus traumas de sobrevivente. Depois de estudos em Sociologia e História na Sorbonne, estreou-se na ficção com As Coisas (1965), e o êxito de A Vida – Modo de Usar fê-lo dedicar-se exclusivamente à escrita. Em 1967, passou a integrar o OuLiPo, de Raymond Queneau, em nome da experimentação e da procura de novas formas literárias.

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ABRIL

A VERDADE E OUTROS CONTOS | Stanisław Lem
Tradução Teresa Fernandes Swiatkiewicz
ISBN 978-972-608-481-5 
Contos | 21 Abril

Uma colectânea de contos, escritos entre 1956 e 1993, pelo autor de ficção científica mais filosófico da Europa, Stanisław Lem. Doze histórias que, no seu conjunto, nos relembram que as certezas de hoje são os erros de amanhã. O retrato que Lem traça é o de uma humanidade auto-indulgente, inconsciente dos seus defeitos, avidamente disposta a destruir o planeta e que, na verdade, não passa de uma partícula de areia no universo.

Sementes de Dissidência

Um novo projecto nos 45 anos da Antígona

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MAIO

A PAZ DAS COLMEIAS | Alice Rivaz
Tradução Inês Dias
Prefácio Mona Chollet
ISBN 978-972-608- 476-1 | 112 pp.
Romance | 5 Maio

La paix des ruches, d'Alice Rivaz : la guerre des ménages

Para mim, Alice Rivaz é uma verdadeira irmã no feminismo. | Annie Ernaux

Em 1947, antes d’O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, Alice Rivaz publicava na Suíça a sua obra-prima. «Creio que já não amo o meu marido», assim começa A Paz das Colmeias, o diário secreto de Jeanne Bornand, que nos revela um matrimónio em ruínas, as inquietudes de uma dactilógrafa de meia-idade numa encruzilhada da vida. Neste caderno inconformado de reflexões sobre a condição feminina, alimentado pela raiva face ao desconcerto do mundo, nada escapa às desapiedadas observações da protagonista: a relação entre os sexos, o matrimónio que converte o amor numa relação doméstica e os mecanismos da dominação masculina.

Alice Rivaz (1901-1998) nasceu na Suíça e partilhava as convicções pacifistas do pai, Paul Golay, destacada figura política do país. Na sua longa vida, passada em Lausana e Genebra, dividiu-se entre o trabalho na OIT – como estenógrafa e arquivista – e a urgência da escrita. Defensora de causas sociais, é autora de vários romances, e a sua obra – que antecipa os temas principais de uma posterior reflexão feminista europeia – é regida por questões como a emancipação da mulher e a procura da identidade.

 

MENINAS E INSTITUIÇÕES / DESEJO CINZAS À MINHA CASA | Daria Serenko
Tradução do russo Larissa Shotropa e João Maria Lourenço
ISBN 978-972-608-457-0
Narrativa | 20 Maio

Meninas e Instituições (2021) é o relato do quotidiano de uma geração de funcionárias na máquina estatal de Putin, uma realidade que a autora conheceu de perto: em bibliotecas e museus, a miríade de tarefas absurdas, a inescapável burocracia, a misoginia e o assédio dos superiores, mas também a solidariedade e empatia que as une. Desejo Cinzas à Minha Casa (2022), texto escrito atrás das grades, narra a experiência da autora numa prisão russa, nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, e testemunha o horror da guerra e as violências sofridas por muitos dos que se opuseram a este conflito.

Daria Serenko (n. 1993), dissidente russa, trabalhou em galerias de arte e bibliotecas estatais, vigiada por câmaras do regime. Em 2016, organizou piquetes silenciosos que levaram cartazes com mensagens políticas e feministas ao metro de Moscovo. Distinguiu-se pelo seu activismo contra o governo de Putin e pelo envolvimento em organizações de defesa dos direitos humanos. Em 2022, foi detida por ter publicado nas redes sociais um post no qual apelava ao voto táctico, estratégia defendida pela Fundação Anti-Corrupção, de Alexei Navalny. Quando estalou a guerra na Ucrânia, foi obrigada a exilar-se na Geórgia e, desde 2023, integra a lista russa de «agentes estrangeiros».

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JUNHO

A UNIVERSIDADE DE REBIBBIA | Goliarda Sapienza
Tradução Manuela Gomes
ISBN 978-972-608-475-4
Romance | 16 Junho 

Goliarda Sapienza (1924-1996), por Valentina Cantori – escamandro

Ler Goliarda Sapienza é uma experiência inesquecível. A sua obra deve figurar entre os grandes textos da literatura íntima feminina, juntamente com os escritos de Virginia Woolf, Anaïs Nin ou Alejandra Pizarnik. | Le Figaro Littéraire

Depois de Carta Aberta (Prémio Nacional ex-aequo de Tradução Literária 2024 da SPA/APT atribuído a Manuela Gomes), a Antígona prossegue a publicação do ciclo biográfico da autora – segundo Goliarda Sapienza, a «autobiografia das contradições». A Universidade de Rebibbia (1983) é o relato literário dos dois meses de reclusão que a autora passou numa prisão feminina no nordeste de Roma, depois do furto de um colar. Comovente homenagem a mulheres rebeldes e inconformadas, este é o duro retrato do quotidiano atrás das grades, a descoberta, entre risos, lágrimas e silêncios partilhados, de uma nova vida em comunidade, menos fria e indiferente do que a existência em sociedade.

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JULHO

COMO ANIMAIS | Violaine Bérot
Tradução Luís Leitão
ISBN 978-972-608-473-0
Romance | 7 Julho 

Prémio das Livrarias de Madrid | Melhor Livro de Ficção 2023

Livro breve, magnético e incisivo, Como Animais (2021) é formado pelos depoimentos dos habitantes de uma aldeia isolada nos Pirenéus, quando uma criança desconhecida é avistada numa gruta e a suspeição se abate sobre um deles, revivendo antigas lendas e mistérios. É através desta polifonia que Violaine Bérot, num texto magistral, compõe um tocante retrato da vida rural e das suas vicissitudes, e uma reflexão sobre a vulnerabilidade de todos os que decidem viver nas margens e esbarram na incompreensão do mundo.

Violaine Bérot (n. 1967) escreve-nos dos Pirenéus, onde, antes de completar trinta anos, se refugiou, trocando o febril ramerrame da cidade e uma carreira burocrática por uma vida frugal, pela criação de ovelhas e cavalos e, posteriormente, em exclusivo pela escrita. Estreou-se na ficção em 1995 e é autora de vários romances saudados pela crítica em França.

NÃO-FICÇÃO

FEVEREIRO

Ailton Krenak 

FUTURO ANCESTRAL
ISBN 978-972-608-472-3 | 96 pp. 
Ensaio | 17 Fevereiro

Em Futuro Ancestral (2022), Ailton Krenak demonstra preocupação com o nosso futuro colectivo ao mesmo tempo que desafia a ideia de que o mundo caminha para o seu fim. Na sua visão, esse futuro deve ser ancestral, incluindo um regresso ao mundo natural de onde o ser humano se desprendeu e que já existia mesmo antes de toda a ideologia do desenvolvimento e do progresso terem surgido para devorar o planeta.


IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO

Posfácio Eduardo Viveiros de Castro
ISBN 978-972-608-471-6 | 96 pp.
Ensaio | 17 Fevereiro

Ideias para Adiar o Fim do Mundo (2019) é um livro cuja preocupação com o futuro da Humanidade está bem presente. Baseado em duas conferências realizadas em Portugal, no Teatro Municipal Maria Matos, em 2017 e, no ICS, em 2019, Ailton Krenak reflecte sobre a forma como os humanos se vão separando cada vez mais da Natureza, atacando-o em vez de proteger, contrariamente à visão indígena, que olha para o seu entorno como algo intrínseco ao ser humano.

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MARÇO

GAZA PERANTE A HISTÓRIA | Enzo Traverso
Tradução Pedro Morais
120 pp.
Ensaio/História | 5 Março

Um ensaio urgente e perspicaz, por um respeitado académico e historiador contemporâneo, que analisa e contextualiza os acontecimentos do 7 de Outubro e a reacção do Ocidente ao conflito israelo-palestiniano.

Ensaio escrito en situation, em resposta ao coro mediático que justificou a destruição de Gaza com a necessidade de Israel se defender após o 7 de Outubro de 2023, Gaza perante a História (2024) é uma reflexão crítica que busca desconstruir essa narrativa. Fazendo diferentes paralelismos históricos e analisando alguns conceitos-chave – orientalismo, anti-semitismo, razão de Estado –, Enzo Traverso desmascara os axiomas ocidentais, baseados no racismo e no colonialismo, que fundamentam a política expansionista e genocida israelita levada a cabo com a conivência do chamado «mundo civilizado».

Enzo Traverso (n. 1957) é um destacado historiador italiano, cujo trabalho se centra na história judaica e do Holocausto, nos totalitarismos e revoluções contemporâneos. Lecciona no departamento de História da Universidade de Cornell, em Nova Iorque. Entre as suas obras mais recentes, contam-se Les nouveaux visages du fascisme (2017), Revolution: An Intellectual History (2021) e O Passado, Modos de Usar (Tigre de Papel, 2020).

MARCAS DE BATOM – Uma História Secreta do Século XX | Greil Marcus
Tradução Helder Moura Pereira
ISBN 978-972-608-449-5
Ensaio | 17 Março

Enciclopédia da subversão e da revolta, um livro no qual se cruzam os Sex Pistols, Debord e os situacionistas, dadaístas e gnósticos da Idade Média.

Inclui uma nova introdução e bibliografia actualizada pelo autor.

Obra esgotada há muito em Portugal, chega em 2025 a aguardada reedição de Marcas de Batom (1989) de Greil Marcus, crítico musical, ex-editor da Rolling Stone e colunista icónico. Em entrevista a Tony Wilson, em 1989, Greil Marcus confessava ter ficado abismado ao ouvir Johnny Rotten cantar «Anarchy in the UK». Restava-lhe descobrir de onde vinha a força, o poder, o niilismo e o NÃO rotundo dos Sex Pistols, gritado ao mundo. Em suma, encontrar as raízes deste inconformismo. Marcas de Batom traça precisamente esta viagem alucinante e imparável que o leva dos heréticos medievais aos dadaístas, situacionistas e anarquistas, e que prova que, ao longo da História, apesar de múltiplas tentativas de supressão, foi impossível calar as vozes subversivas e marginais que reaparecem e se fazem ouvir incessantemente na música, em manifestos, na arte, e que formam uma corrente demasiado vital e coerente para ser travada.

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ABRIL

UMA HISTÓRIA DOS BOMBARDEAMENTOS | Sven Lindqvist
Tradução do sueco Ana Diniz
ISBN 978-972-608-465-5 | 440 pp.
Ensaio/História | 7 Abril

Do autor de Exterminem Todas as Bestas e Terra Nullius, a Antígona publica uma das obras mais aclamadas de Sven Lindqvist, uma visão histórica do «século das bombas» e das ideologias da guerra e da violência.

Em diários de viagem e ensaios, o autor sueco Sven Lindqvist (1932- 2019) fez da sua obra um constante lembrete das violências infligidas pelo ser humano ao seu semelhante, das injustiças permanentes e inescapáveis no planeta. Uma História dos Bombardeamentos (1999), compêndio dos efeitos devastadores da «morte que vem dos céus», assume um jogo formal sui generis: uma estrutura fragmentada – como se estilhaçada por uma bomba –, em parágrafos numerados, na qual o leitor escolhe o seu percurso, revisitando episódios e marcos da guerra aérea, e a vida de civis em tempos de conflito. Um labirinto de acontecimentos, onde a cada passo o autor nos desengana sobre as guerras ditas limpas, revolve fantasias genocidas em nome do imperialismo e apela a um presente que teima em não aprender com os erros do passado.

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JUNHO

NÓS, FILHOS DE EICHMANN – Carta Aberta a Klaus Eichmann | Günther Anders
Tradução e prefácio Tiago Mesquita Carvalho
Ensaio | 5 Junho

Günther Anders “Die Kirschenschlacht, Dialoge mit Hannah Arendt”, een  verrijkende uitgave van C. H. Beck. | Stretto – Magazine voor kunst,  geschiedenis, filosofie, literatuur en muziek.

O primeiro livro de Günther Anders publicado em Portugal.

Em 1964, no rescaldo da leitura de Eichmann em Jerusalém (1964), de Hannah Arendt, Günther Anders escreve duas cartas ao filho mais velho de Adolf Eichmann. Com elas diz não pretender revisitar o passado recente, mas evitar a repetição de monstruosidades no futuro e falar ao presente, aos seres humanos enredados numa humanidade que despreza os seus membros e que a todo o momento pode recair na barbárie. Porque, segundo Anders, o avassalador progresso técnico concebeu uma megamáquina de tal forma complexa, poderosa e desorientadora que torna imperceptível a todos os que a servem –  «parafusos numa engrenagem», como referia Eichmann no seu julgamento – os efeitos indirectos e o carácter lesivo das suas acções, impossibilitando uma ética e favorecendo uma falência moral.

Günther Anders (1902-1992), filósofo, activista, feroz oponente da nuclearização do mundo e ensaísta profícuo, foi, tal como Hannah Arendt, com quem casaria em 1929, aluno de Heidegger. Estudou em Munique e Berlim, e doutorou-se em Filosofia em 1923. Filho de judeus, denunciou nos anos 30 a ameaça da ascensão nazi, que o obrigou a refugiar-se em Paris e, em 1936, a exilar-se nos EUA. O trauma do Holocausto e dos bombardeamentos nucleares de Hiroshima e Nágasaqui e o papel da tecnologia na sociedade contemporânea, que analisou na sua magnum opus, Die Antiquiertheit des Menschen [A obsolescência do homem], dominaram a sua reflexão.

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JULHO

SOBRE O ANARQUISMO | Noam Chomsky
Tradução Diogo Duarte
ISBN 978-972-608-478-5 | 200 pp.
Ensaio | 21 Julho

Anarchism | Definition, Varieties, History, & Artistic Expression |  Britannica

Defensor dos princípios anarquistas operários desde a sua juventude, em Sobre o Anarquismo (2005) Noam Chomsky observa a significância do anarquismo historicamente e na actualidade, de um ponto de vista filosófico mas também prático, destacando períodos históricos, como o da Guerra Civil de Espanha, em que as ideias anarquistas foram efectivamente postas em prática. Analisa também a confusão existente no contexto americano entre libertarianismo e anarquismo, e defende o antiautoritarismo patente nas ideias anarquistas como questionamento constante das estruturas de poder. Um compêndio para entendermos o pensamento político de um dos principais intelectuais dos nossos tempos.


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