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O que vamos publicar este ano
Em 2023, prometemos manter a paixão pelos textos subversivos, continuar a empurrar as palavras contra a ordem dominante e dar aos leitores obras que contribuem para a compreensão dos acontecimentos que mudam a sociedade e a nossa vida. Uma colheita anual com notas de insolência e aroma a subversão, para degustar ao longo de 365 dias.
A Promessa
Silvina Ocampo
tradução Helena Pitta | nota preliminar Ernesto Montequin
romance
23 de Janeiro
Num navio, uma mulher cai ao mar. À deriva, vê a vida inteira passar diante dos seus olhos e promete a Santa Rita, a padroeira das causas impossíveis, escrever a sua história se sobreviver. Pessoas, lugares e lembranças afluem-lhe à memória, como destroços à tona da água, num oceano insondável e ameaçador, formando um poderoso dicionário de recordações. Publicada postumamente em 2011, A Promessa sofreu constantes reescritas desde os anos 60 e foi o labor dos últimos dias da autora, já atormentada pela doença.
O Inquilino Quimérico
Roland Topor
tradução Júlio Henriques
romance
23 de Janeiro
Adaptado ao cinema por Roman Polanski em 1976, O Inquilino Quimérico (1964) é, além de um clássico do humor negro com recortes kafkianos, uma obra que aborda temas decerto familiares a alguns leitores: a má vizinhança, os problemas de condomínio e as agruras da propriedade horizontal. Quando Trelkovsky, um novo inquilino num prédio parisiense, se vê subitamente alvo do ódio dos vizinhos, sem motivo aparente, entra numa crise – imobiliária e existencial – com um desfecho imprevisível.
Há Mundo Por Vir?
Ensaio sobre os medos e os fins
Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro
ensaio
6 de Fevereiro
Este ensaio de Eduardo Viveiros de Castro, um dos mais influentes antropólogos da actualidade, e Déborah Danowski, investigadora do Antropoceno, é uma reflexão sobre actuais imaginários do fim do mundo e discursos apocalípticos, diante da perspectiva do colapso ambiental, conjugando premissas da moderna filosofia europeia e metafísica ameríndia, e evocando a literatura e o cinema, num fértil diálogo crítico com pensadores como Bruno Latour e Isabelle Stengers.
A Voz do Dono e Memórias Encontradas numa Banheira
Stanisław Lem
tradução do polaco Teresa Fernandes Swiatkiewicz
romance
6 de Março e 8 de Outubro
Depois de Solaris, prosseguimos a publicação das obras de Stanisław Lem com o romance A Voz do Amo e, em Outubro, Memórias Encontradas numa Banheira. Em 2024, será a vez da colectânea de contos inédita em Portugal A Verdade e Outras Histórias. Quando detecta uma mensagem vinda do espaço, uma comunidade de cientistas, reunida num projecto governamental no deserto do Nevada, não se poupa a esforços para a decifrar. A Voz do Amo é um clássico aclamado e densamente filosófico em torno da sobreinterpretação e das limitações do conhecimento face ao insondável.
Livres de Obedecer
A gestão, do nazismo aos dias de hoje
Johann Chapoutot
tradução Miguel Serras Pereira
ensaio
3 de Abril
Pela mão de um especialista na história do nazismo e professor de História Contemporânea na Sorbonne, o breve e polémico ensaio Livres de Obedecer (2020) revela-nos os laços entre o quadro mental da eficiência nazi e a gestão contemporânea. Debruça-se sobre o contexto histórico que estimulou o desenvolvimento das ideias e experiências dos nazis em gestão e narra a concomitante ascensão de alguns dos seus sombrios protagonistas, com destaque para Reinhard Höhn, jurista e general das SS, que após a guerra, habilmente se reconverterá no fundador de uma prestigiada academia de gestão da RFA.
As Caças ao Homem
Grégoire Chamayou
tradução Manuel de Freitas
ensaio
8 de Maio
Estreia em Portugal de um dos mais brilhantes pensadores franceses da actualidade, As Caças ao Homem (2010) é um ensaio que traça a evolução desta forma de violência imemorial e sistemática no Ocidente (das caças aos escravos na Grécia Antiga à actual perseguição de imigrantes ilegais), das suas motivações e dos seus alvos (historicamente, os dispensáveis, os «infra-humanos», aqueles cuja simples existência ameaça o poder instituído e desafia a autoridade), e das relações de poder que ela implica, reflectindo sobre os conceitos humano/sub-humano e desconstruindo a suposta legitimidade da dominação.
Ensinar uma Pedra a Falar
Expedições e Encontros
Annie Dillard
tradução Inês Dias
relato/ensaio
22 de Maio
Galardoada com o Prémio Pulitzer em 1975 pelo livro Pilgrim at Tinker Creek e, em 2014, com a Medalha de Artes e Humanidades pelo «aprofundamento da compreensão da experiência humana», Annie Dillard (n. 1945), nature writer na senda de Thoreau, sua inspiração assumida, fará com este livro a sua estreia em Portugal. Ensinar Uma Pedra a Falar (1982) reúne catorze ensaios autobiográficos marcantes de Annie Dillard, formando um périplo por alguns dos locais mais remotos do planeta – do Pólo Norte às Galápagos, passando pela selva equatoriana, os Apalaches e o estreito do Pacífico. Estas viagens são o mote para divagações eloquentes sobre o inexorável movimento do tempo e o temor que a natureza inspira, culminando numa filosofia do olhar e da liberdade.
O Homem que Viveu Debaixo da Terra
Richard Wright
tradução José Miguel Silva
romance
5 de Junho
Richard Wright (1908-1960) é um dos mais importantes autores americanos do século XX. Figura tutelar para James Baldwin, deu voz à raiva contida dos homens negros, a personagens masculinas e violentas aprisionadas pelo sistema racial. Famoso pela obra Native Son (1940), um êxito nos EUA que viria a ser encenado nos palcos por Orson Welles, Richard Wright publicou O Homem que Viveu debaixo da Terra como conto, após sugestões de cortes do editor a quem dirigiu o manuscrito. Em 2021, a Library of America recupera a versão integral do texto, posfaciada pelo neto e acompanhada pelo ensaio «Recordações da Minha Avó», que narra a génese do texto. O Homem que Viveu debaixo da Terra é a história de Fred Daniels, negro capturado pela polícia devido a um crime que não cometeu e que, numa verdadeira descida aos infernos, se refugia nos túneis da cidade.
Terra Queimada
Da Era Digital ao Mundo Pós-Capitalista
Jonathan Crary
tradução Nuno Quintas
ensaio
10 de Julho
Ensaio profético e demolidor, segundo a crítica internacional, Terra Queimada denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica; a atomização social provocada pelas redes digitais; a era digital como uma fase terminal do capitalismo planetário. Em nome de um modo de vida mais humano e menos alienado.
Jonathan Crary é crítico de arte e professor de Teoria e Arte Moderna na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Referência incontornável no pensamento da cultura visual, com um discurso crítico e refinado, é também editor da Zone Books e escreve regularmente para publicações como a October, a Cahiers du Cinéma e a Artforum. Entre os seus títulos, destacam-se 24/7 – O Capitalismo Tardio e os Fins do Sono (2018, Antígona) e Técnicas do Observador (2017, Orfeu Negro).
Caminhar
Uma Filosofia
Frédéric Gros
tradução Inês Fraga
ensaio
10 de Julho
«Um livro admirável que deleitará até o leitor mais sedentário.» Le Monde
Êxito de vendas em França, Caminhar (2008) é um ensaio cristalino e uma reflexão sobre a acção de caminhar como algo indissociável do acto de pensar. Para Frédéric Gros, esta actividade não se trata de um desporto, mas de um exercício espiritual, uma evasão, uma deriva ao acaso e sem destino particular. Experiência física e simultaneamente espiritual, prova da liberdade humana, Caminhar elege como guias ilustres pensadores como Thoreau, Rimbaud, Rousseau, Nerval e Hölderlin entre outros filósofos adeptos do ar livre.
Uma Autobiografia
Angela Davis
tradução Heci Regina Candiani
autobiografia
23 de Julho
«Uma autobiografia tão fascinante hoje como há cinquenta anos.» The Guardian
Inclui um novo prefácio da autora à edição norte-americana mais recente, publicada em 2022.
Depois da publicação de A Liberdade é Uma Luta Constante e de As Prisões estão Obsoletas?, Uma Autobiografia (1974) passa a integrar o catálogo da Antígona em 2023. Desafiada a escrever a sua biografia aos 28 anos por Toni Morrison – que viria a editar e a publicar este livro em 1974 – , Angela Davis narra o seu percurso de vida: da infância passada no Alabama à carreira de professora universitária, interrompida por um dos mais importantes julgamentos do século XX nos EUA e que faria dela uma das dez pessoas mais procuradas pelo FBI. Uma Autobiografia transporta-nos para as lutas sociais dos anos 60 e 70 nos EUA pelo olhar de uma das maiores activistas do nosso tempo.
Tempo de Erros
Muhammad Chukri
tradução do árabe Hugo Maia
romance
21 de Agosto
Em Tempo de Erros (1989), Muhammad Chukri prossegue o relato autobiográfico iniciado em Pão Seco. Aos vinte anos, quando aprende a ler e escrever, os seus dias e noites são passados na escola em Larache e na cidade de Tânger. É o relato dos seus anos de aprendizagem, em fuga da pobreza e da delinquência, que pesam eternamente sobre o autor, e de uma vida no fio da navalha.
Acreditar nas Feras
Nastassja Martin
tradução Luís Leitão
relato
21 de Agosto
Prémio François Sommer-Musée de la Chasse et de la Nature 2020 | Prémio Joseph Kessel 2020 | Prix du Réél 2020
«Uma exploração fascinante e ambiciosa do animismo e da fronteira entre humano e animal.» John Self, The Guardian
«Um livro surpreendente de metamorfoses, um híbrido entre antropologia e literatura, o registo de uma viagem interior e um convite ao leitor para ver o mundo de uma maneira completamente diferente.» Sophie Joubert, L’Humanité
Acreditar nas Feras (2019) é a história do encontro brutal entre uma antropóloga e um urso no coração da floresta siberiana, em 2015. Ele poupou-lhe a vida, mas desfigurou-a. Ela sobreviveu para contar este esmagador recontro, esta história «de um colapso e de uma ressurreição», nas suas palavras. Relato fascinante de que não está ausente a dimensão política – a «guerra fria» entre Leste e Ocidente, travada no corpo de uma mulher, em intermináveis cirurgias e pernoitas em hospitais russos e franceses –, Acreditar nas Feras é não só a história de um encontro entre uma mulher e um urso e do choque de dois mundos – o selvagem e o humano –, mas um livro que questiona a convicção cosmopolita de que tudo à face do planeta deve ser domesticado, normalizado e controlado. Esta obra foi publicada recentemente no Brasil, na Alemanha e integra desde o ano passado a prestigiada colecção da New York Review of Books.
Nastassja Martin (n. 1986) estudou Antropologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales, onde completou a sua tese de doutoramento sob a orientação de Philippe Descola. É professora no Collège de France. É autora, entre outras obras, de Les âmes sauvages – Face à l’occident, la résistance d’un peuple d’Alaska.
Marcas de Batom
Uma História Secreta do Século XX
Greil Marcus
tradução Helder Moura Pereira
ensaio
21 de Agosto
edição actualizada pelo autor
«I am an anti-Christ
I am an anarchist,
Don't know what I want
But I know how to get it.
I wanna destroy the passerby
'Cos I wanna be anarchy.»
Sex Pistols, Anarchy in the UK
Esgotado há muito em Portugal, chega em 2023 a aguardada reedição de Marcas de Batom (1989) de Greil Marcus, crítico musical, ex-editor da Rolling Stone e colunista icónico. Em entrevista a Tony Wilson, Greil Marcus confessava em 1989 ter ficado abismado ao ouvir Johnny Rotten cantar «Anarchy in the UK». Restava-lhe descobrir de onde vinha a força, o poder, o niilismo e o não rotundo dos Sex Pistols, gritado ao mundo, em suma, encontrar as raízes deste inconformismo. Marcas de Batom traça precisamente esta busca, esta viagem alucinante e imparável que o leva dos heréticos medievais aos dadaístas e aos situacionistas e anarquistas, e que prova que, ao longo da História, apesar de múltiplas tentativas de supressão, foi impossível calar as vozes subversivas e marginais que reaparecem e se fazem ouvir incessantemente na música, em manifestos, na arte, e que formam uma corrente demasiado vital e coerente para ser travada.
Medicine Walk (título original)
Richard Wagamese
tradução José Miguel Silva
romance
21 Agosto
Jornalista e escritor premiado, autor de doze romances, Richard Wagamese (1955-2017) era uma das vozes cimeiras das Primeiras Nações do Canadá. Membro da tribo Ojibwe, tornou-se o primeiro nativo a receber um prémio nacional de jornalismo, o National Indigenous Achievement Award e o Prémio do Canada Council for the Arts. Filho de pais afastados pelo governo canadiano das suas famílias e que conheceram a triste realidade das residential schools – escolas e orfanatos que tinham por missão integrar jovens de tribos na cultura canadiana ocidentalizada, a custo da perda da sua identidade cultural –, foi também ele abandonado pelos pais. Medicine Walk (2014) é a história do reencontro entre um pai, moribundo e destruído pelo álcool, e um filho, Franklin Starlight, de 16 anos, ambos nativos de tribos canadianas. É também o relato da viagem dos dois pelas deslumbrantes florestas da Colúmbia Britânica, em busca da terra sagrada da tribo, onde o pai tem por último desejo ser enterrado. Uma relação difícil em busca de apaziguamento, numa escrita soberba, o retrato de um pai estigmatizado e vítima de um trauma colectivo: a violência estrutural a que os nativos canadianos se sujeitavam em pleno no século XX, o desenraizamento e a marginalização destes povos, que Eldon Starlight, o pai, carrega como uma cruz ao longo de toda a trama.
Reúnam-se em Meu Nome
Maya Angelou
tradução Tânia Ganho
romance autobiográfico
21 de Agosto
Depois do inesquecível Sei porque Canta o Pássaro na Gaiola, é finalmente publicado em Portugal Reúnam-se em meu nome (1974), o segundo volume da autobiografia de Maya Angelou. Centrando-se na vida da autora em São Francisco e na sua entrada na idade adulta, é o relato de uma luta travada diariamente como mãe e mulher negra nos anos 40, contrapondo um país vitorioso na guerra às derrotas quotidianas sofridas pelos negros nos EUA.
Carta Aberta
Goliarda Sapienza
tradução Manuela Gomes
11 de Setembro
Carta Aberta (1968) é o ajuste de contas com a vida pela mão de uma das autoras italianas mais fascinantes do século xx: Goliarda Sapienza (1924-1996). Oriunda do meio anarquista siciliano, cresceu numa família activista, antifascista e anticlerical, durante a ditadura de Mussolini. Amiga de Elsa Morante e de Pier Paolo Pasolini, actriz em filmes de Visconti, teve uma vida trepidante, e a obra que nos legou – na qual se destaca A Arte da Alegria, publicada postumamente – sempre se confundiu com a sua biografia, entre Catânia e Roma. Submetida a electrochoques, na sequência de acessos de depressão, perdeu a memória e elegeu a literatura como uma forma de a recuperar. Carta Aberta, o primeiro livro de um ciclo autobiográfico iniciado em finais dos anos 60, é um exercício de liberdade, o fruto da sua indagação do passado, centrado nos tempos de juventude na Sicília.
Caruncho
Layla Martínez
tradução Guilherme Pires
romance
23 de Outubro
«Uma casa de sombras e de mulheres, feita de vingança e poesia. Uma novela tensa e que nos faz estremecer, que aborda os espectros e as questões de classe, a violência e a solidão com naturalidade.» Mariana Enríquez
«Caruncho é um acontecimento literário.» Belén Gopegui
Fenómeno de vendas no país vizinho – onde esgotou 16 edições em apenas dois meses e foi publicado pela editora independente Amor de Madre –, Caruncho (Carcoma, 2021) é o romance de estreia da jovem escritora espanhola Layla Martínez (n. 1987).
Caruncho narra o regresso de uma neta à casa rural da família, no coração de uma Espanha desertificada. Contada a duas vozes – pela jovem e pela avó –, esta história de vingança e ressentimento é indissociável da memória do lar, das quatro paredes sobre as quais pesam traumas herdados e décadas de violência patriarcal. Um romance com contornos góticos sobre uma pesada herança familiar que, como o bicho da madeira, carcome as protagonistas, com um final surpreendente.
Layla Martínez (n. 1987) é escritora e editora, co-dirige a chancela editorial Antipersona e coordena a fanzine musical Dolly Records. Licenciada em Ciências Políticas pela Universidade Complutense de Madrid, é investigadora na área dos movimentos sociais e culturais, colabora habitualmente em várias publicações (Culturamas, Diagonal) e programas de rádio, e é autora do ensaio Útopia no es una isla (2020), que reflecte sobre projectos utópicos do passado e distopias do presente.
Autodefesa
Uma Filosofia da Violência
Elsa Dorlin
tradução Manuel de Freitas
ensaio
6 de Novembro
Prémio Frantz Fanon 2018
«Um livro apaixonante que nos acompanha toda a vida.» Abdourahman Waberi, Le Monde
Ensaio magistral sobre o sentido político da autodefesa e a sua genealogia, sobre a forma como a própria história da violência encerra uma contra-história interna: a da prática da autodefesa e da resistência contra a ordem dominante – policial, judiciária, racista, homofóbica. Um vigoroso fresco histórico, no cruzamento entre a filosofia e a política, que abarca tanto a autodefesa dos escravos, a genealogia do krav maga, o jiu-jitsu das sufragistas britânicas na sua luta pelos direitos cívicos, como as lutas armadas dos Panteras Negras nos anos 60.
Elsa Dorlin (n. Paris, 1974), doutorada pela Universidade Paris-Sorbonne, é professora de Filosofia Social e Política na Universidade Paris VIII. Ensaísta e investigadora em teoria feminista, organizou a antologia Black Feminism: Anthologie du féminisme africain américain (1975-2000) e publicou, entre várias obras, La Matrice de la race (2006) e Sexe, genre et sexualités (2017).
Uma Manta de Retalhos da Mente
Lawrence Ferlinghetti
tradução Margarida Vale de Gato
poesia
20 de Novembro
Talvez a mais famosa colectânea de poemas do ícone beat e editor da City Light Books, inclui clássicos como «I am waiting» e «Junkman’s Obbligato». Obra maior da Geração Beat, traduzida em doze línguas, é o livro de poesia mais vendido nos EUA na segunda metade do século XX. Crítica sã a uma América transformada num misto de feira popular e casa de fantasmas – metáfora e alegoria da vida moderna –, a par do seu intemporal fervor anti-establishment e statu quo, conserva até hoje o estatuto de obra de enorme importância cultural e de clássico da poesia moderna.
A Pequena Comunista que Nunca Sorria
Lola Lafon
tradução Luís Leitão
romance
20 de Novembro
Prix Ouest-France Étonnants Voyageurs | Prix Jules Rimet | Prix Version Fémina
Nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, uma pequena ginasta romena arrecadava surpreendentemente cinco medalhas, três das quais de ouro, obtendo várias vezes a nota máxima e batendo as favoritas soviéticas.
Nadia Comaneci é a «pequena comunista que nunca sorria», a protagonista deste livro de Lola Lafon, publicado em França em 2014, premiado e traduzido em várias línguas e que se lê de um só fôlego. Numa escrita soberba, um romance que põe a nu a instrumentalização da criança e da futura mulher operada por regimes despóticos, a lavagem cerebral de que são alvo, e que as leva, como no caso de Nadia Comaneci, a nutrir durante décadas uma relação ambígua com o regime. Um livro sobre uma infância sacrificada, uma adolescência comprometida, o tratamento da figura feminina pela comunicação social e pela sociedade e um ideal de perfeição que só a custo da sanidade mental é suportado pelo corpo.
Lola Lafon (n. 1974) é escritora e dedica-se também à música. Nasceu em Paris, onde vive actualmente, e cresceu em Sófia e em Bucareste durante a Guerra Fria. Filha de pais comunistas e professores de literatura, frequentou os meios dos squatters e anarquistas parisienses. Fundou o grupo musical Leva, influenciado pela música dos Balcãs. É autora de seis romances premiados, entre os quais Une fièvre impossible à négocier (2003) e Nous sommes les oiseaux de la tempête qui s’annonce (2011), texto insurreccional e feminista.